quinta-feira, 7 de abril de 2011

Gorda... eu?!

Viagem a Myanmar - parte 4
- Que tal a gente parar aqui para tirar umas fotos?
Quem deu a ideia foi o guia Thet Win Naung, que nos levava de carro para conhecer a região rural de Kalaw, zona montanhosa de Shan, estado no centro-leste de Myanmar. A mais de 1300 metros de altitude, Kalaw tem clima ameno e por isso era o local de veraneio preferido dos ingleses na era colonial. Hoje atrai  visitantes aventureiros, que gostam de fazer trecking em regiões ainda pouco exploradas pela indústria do turismo.
Nosso carro parou no meio da estrada. Olhei em volta e a principio não vi nada que justificasse aquela parada. Era um imenso campo de terra seca e avermelhada, sem nehuma estupa, templo ou casa por perto.

Com um pouco mais de atenção, avistei duas mulheres arando a terra perto da estrada. Na verdade faziam apenas a limpeza do campo para o semeio do arroz, que só irá começar quando vierem as chuvas,
daqui a um mês. Uma delas trabalhava de cócoras e eu quase não conseguia distingui-la na paisagem, pois a cor de sua pele, curtida pelo sol, se confundia com a cor da própria terra.
- Vamos lá falar com elas? - propõe Win.
Fiquei na dúvida, temendo que a intromissão no trabalho poderia causar algum incômodo a elas.
- Que nada! Venha comigo que eu quero mostrar de perto o tipo de turbante e vestimenta que elas usam, típicos daqui da região - disse Win, completamente à vontade.
Meio constrangida, segui nosso guia até o local onde as mulheres trabalhavam. Fiquei impressionada com a competência adorável que Win demonstrou ter para se aproximar das pessoas e ganhar sua confiança imediatamente. Em poucos minutos estávamos todos ali "conversando" animados, entre sorrisos, gestos e algumas frases traduzidas pelo guia.

As duas mulheres pareciam estar tão fascinadas com a minha presença ali quanto eu pelo fato de estar perto delas. Nós três observávamos atentamente cada detalhe das nossas roupas, comparávamos as cores das nossas peles e cabelos. Sem entender uma palavra do que dizíamos umas à outras, a gente se entendia perfeitamente com a linguagem universal do corpo humano. Tirei fotos e mostrei-as às duas. Rimos juntas quando nos vimos reunidas no visor da máquina fotográfica.




-Quantos anos você tem? - quis saber de repente a mais velha, através da tradução cuidadosa do nosso guia, sempre atento e gentil.
Desconfio que foi a primeira vez, desde que completei sessenta anos em janeiro passado, que me perguntaram a idade de forma tão direta. Confesso que titubeei um pouco, mas disse a minha idade sem mentir, em alto e bom som.
- Sessenta?!? - espantou-se a mais nova. - Não parece, de jeito nenhum!
Não sei dizer se a jovem mulher estava sendo sincera ou apenas cortês. Mas fiquei feliz com a resposta e dei-lhe um beijo de agradecimento.
De repente, senti que me apalpavam o traseiro e olhei assustada para trás. Era a mão da agricultora mais velha que passeava sem constrangimento pela região abaixo da minha cintura, investigando minha geografia carnal.
- Wa-rê! - disse ela, rindo.
Assustada, pedi ao guia que me traduzisse o que ela dizia. Meio constrangido, Win esclareceu:
- Ela está dizendo que você é gorda...
Foi um momento tão inesperado e engraçado, que sinceramente na hora não fiquei chateada com o comentário espontâneo.
- Gorda... eu?!
E caímos todos na maior gargalhada.

Já no carro, prosseguindo viagem, eu não conseguia tirar aquele comentário da cabeça. Tentei então me consolar interiormente: num país onde as pessoas são muito magras, chamar alguém de"gordo" talvez seja um grande elogio.
Talvez.



Um comentário:

Anônimo disse...

Se a moda pega, vai ser um tal de passar a mão na bunda, daqui e dali, só pra dar uma "verificada". ;-)
Beijo
Sandra