sábado, 6 de novembro de 2010

Rir para não chorar

Quando o mundo parece estar desabando sobre a nossa cabeça, não há nada mais revigorante do que uma dose de bom humor, na medida certa. E quando o senso de humor, além de nos fazer rir, ainda nos faz pensar, então... dá vontade da gente aplaudir de pé! Foi o que aconteceu comigo esta semana, quando fui assistir ao excelente "Contos da era dourada", do diretor romeno Cristian Mungiu, vencedor do Palma de Ouro de 2007 pelo filme "4 meses, 3 semanas e 2 dias".

O filme é composto por seis episódios, de seis diretores diferentes, baseados em 'lendas urbanas' da era comunista da Romênia nos anos 80, sob o governo totalitário de Nicolae Ceausescu. Essas lendas, por sua vez,  tem origem no imenso repertório de piadas que circulavam entre as pessoas para criticar o regime e aliviar um pouco a pressão do dia a dia, nas filas para comprar alimentos, no temor pela repressão policial, nas batalhas inglórias contra a burocracia, nas conversas entre amigos para compensar a falta de liberdade de expressão, na indignação contra o puxassaquismo no alto comando governamental. Será que alguma dessas circunstâncias lhe soa familiar?

Pois é, um dos grandes méritos do filme é sua capacidade de transformar dramas locais em histórias perfeitamente universais, apresentando cada um dos simpáticos personagens - pessoas simples ou poderosas, trabalhadores urbanos ou rurais, jovens ou velhos - como simples seres humanos,  com seus defeitos, qualidades e incongruências humanas.    Que nem você, aquele cara ali da esquina e eu.

Uma das cenas mais impactantes é justamente a última, enquanto os créditos do filme vão subindo na tela e quase todo o mundo já está se levantando para deixar o cinema. De repente, sem qualquer aviso prévio, as cenas da comédia dão lugar a imagens reais do próprio Nicolae Ceausescu presidindo uma pomposa cerimônia cívica, em meio a bandeiras coloridas e homenagens da multidão patriótica, inclusive crianças, perfeitamente obedientes e uniformizadas - ingrediente infalível nos megaeventos de governos totalitários. A súbita transição da comédia para o documentário provoca uma sensação surreal e nos faz sair do cinema com um meio sorriso na boca.

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