quinta-feira, 1 de julho de 2010

Bola murcha

Dois dias inteiros sem nenhum jogo de futebol na Copa do Mundo. As emoções estão cuidadosamente represadas para explodir em verde e amarelo amanhã de manhã, quando o Brasil enfrenta a Holanda nas quartas-de-final. Mas desde ontem a bola não se mexeu. São dias de bola murcha.

Sinto falta daquele momento carregado de emoção, quando toca o hino nacional dos países que se preparam para jogar e as câmeras de TV focalizam o rosto de cada jogador em close up.  Mal posso esperar pelo instante em que a bola começa a rolar no gramado e fico logo torcendo para ver tremular a rede do gol do adversário. Emoção barata, eu sei bem. Percebo que é tudo um grande teatro e que, desde que o mundo é mundo, o ser humano se alimenta de circo, tanto quanto de pão. Mas não consigo evitar: tenho fome de Copa do Mundo.

O melhor acontecimento desses dias sem jogo é o fato da gente ficar algumas horas sem ouvir o som das vuvuzelas, esta praga sulafricana que enlouquece qualquer pessoa, dentro ou fora dos estádios.

Outra coisa boa é poder ir ao supermercado, ao banco ou a um compromisso qualquer, sem aquela sensação de que o mundo está prestes a se acabar, como acontece nas horas que antecedem um jogo do Brasil.

Abro o jornal e a notícia me grita, impiedosa: dezenas de mortos e milhares de desabrigados nas enchentes que destruíram cidades inteiras na Zona da Mata de Pernambuco e Alagoas nestes últimos dias. Nas fotos da tragédia, vejo a imagem de bandeirinhas verdes e amarelas enfeitando inutilmente uma rua alagada.

Procuro um jeito de amenizar o sofrimento desses milhares de brasileiros que tanto perderam. Faço minha contribuição correta na conta bancária de um amigo engajado na campanha de ajuda aos flagelados. Respiro fundo, viro a página do jornal e volto a ler o noticiário da Copa: Elano continua com dores musculares, Ramirez suspenso pelo cartão amarelo, mas Kaká e Robinho estão em plena forma - ainda bem.

Tento me concentrar no jogo de amanhã contra a Holanda. Mas minha bola está murcha.

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