Deixo minha roupa no vestiário e visto aquela batinha infame, que nunca sei se deve ser colocada com a abertura na frente ou atrás. Não faço questão de aprender. Quanto menos intimidade tiver com aquela coisa, melhor.
Enquanto espero a minha vez na saleta fria, a televisão da parede fala sozinha e uma senhora de olhar triste me conta os detalhes da doença detectada no último exame. Ouço tudo em silêncio respeitoso, paciente. Mas quando a enfermeira finalmente chama meu nome lá do fundo do corredor, saio dali ligeira e feliz, como se tivesse sido convidada para dançar no baile do príncipe encantado.
A enfermeira me conduz a uma saleta ainda mais fria que a anterior e me faz deitar na cama mais dura de todo este Rio de Janeiro. "A doutora já vem lhe atender", me avisa sorridente, logo fechando a porta atrás de si. E me deixa ali na penumbra, olhando para o teto.
Por fim, o exame termina. A doutora se levanta, pela primeira vez me olha direto nos olhos e anuncia, econômica, antes de sair: "Está tudo normal."
Mal tenho tempo de lhe agradecer. A porta se fecha rápida e fico de novo sozinha na penumbra da sala, agora doida para tirar aquela bata e voltar para as minhas roupas "normais", minha vida "normal". Como é bom não se ter nada de urgente a fazer.
Tem momentos na vida em que
nada é tudo.
nada é tudo.
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