quinta-feira, 25 de março de 2010

Ultrassom

Dia de check-up geral. Uma chatice. Munida da papelada dos pedidos médicos devidamente assinados e carimbados, compareci ao predio modernoso, com ar condicionado no ponto máximo de refrigeração e um quadro de funcionários bem treinados, ostentando sorrisos pontuais. Sou mais um número na lista interminável de pacientes que por ali passam todos os dias das 8 às 18 horas, cada qual com seus medos, fingindo indiferença.

Deixo minha roupa no vestiário e visto aquela batinha infame, que nunca sei se deve ser colocada com a abertura na frente ou atrás. Não faço questão de aprender. Quanto menos intimidade tiver com aquela coisa, melhor.

Enquanto espero a minha vez na saleta fria, a televisão da parede fala sozinha e uma senhora de olhar triste me conta os detalhes da doença detectada no último exame. Ouço tudo em silêncio respeitoso, paciente.  Mas quando a enfermeira finalmente chama meu nome lá do fundo do corredor, saio dali ligeira e feliz, como se tivesse sido convidada para dançar no baile do príncipe encantado.

A enfermeira me conduz a uma saleta ainda mais fria que a anterior e me faz deitar na cama mais dura de todo este Rio de Janeiro. "A doutora já vem lhe atender", me avisa sorridente, logo fechando a porta atrás de si. E me deixa ali  na penumbra, olhando para o teto.

Passados longos minutos, chega a doutora, com perguntas curtas: "Idade?"  "Qual a razão do exame?" "Já fez alguma operação?"

O exame de ultrassom é feito em silêncio completo. Olho para o rosto da jovem médica, iluminado pela luz azulada do monitor. Não consigo identificar nenhuma expressão especial.

Por fim, o exame termina. A doutora se levanta, pela primeira vez  me olha direto nos olhos e anuncia, econômica, antes de sair: "Está tudo normal."

Mal tenho tempo de lhe agradecer. A porta se fecha rápida e fico de novo sozinha na penumbra da sala, agora doida para tirar aquela bata e voltar para as minhas roupas "normais", minha vida "normal". Como é bom não se ter nada de urgente a fazer.

Tem momentos na vida em que
nada é tudo.

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