sexta-feira, 26 de março de 2010

Mestre Vitalino e Nelson Leirner


Esta semana fui a duas exposições de arte aparentemente desconexas, que me fizeram sorrir e acrescentaram um tempero bom na minha sopa de idéias.



A primeira foi no Museu do Folclore, que fica bem ao lado do Palácio do Catete: "Mestre Vitalino e artistas pernambucanos". O título da mostra é singelo como o artista homenageado, o escultor das figurinhas de cerâmica Vitalino Pereira dos Santos, que se estivesse vivo estaria completando 100 anos de idade. Tive a sorte de percorrer a galeria da exposição ao lado da minha amiga Guacira Waldeck, que organizou a mostra e é uma expert apaixonada pela arte popular brasileira. Foi ela quem me chamou a atenção para uma escultura de madeira de um artista contemporâneo do Vitalino, também pernambucano, chamado Benedito José dos Santos.

A escultura mostra duas figuras humanas carregando uma rede, com desenhos geométricos, numa concepção estilizada e moderna, quase urbana-chique. De onde terá este homem tirado idéias estéticas tão avançadas? Ali ao lado, um depoimento do próprio Benedito, colhido em 1980, parece responder à minha pergunta: " Passo o dia na madeira: aí de noite vem o sonho. Quando acordo, chega a imaginação. Então tenho uma felicidade estranha."

"Uma felicidade estranha"... Que maneira simples e direta de descrever aquilo que se sente quando a inspiração bate e se cria o belo.

A outra exposição que fui ver esta semana tem um nome complicado: "Stripencores". É uma mostra individual do Nelson Leirner, artista polêmico com meio século de criação e experimentação em happenings, instalações, cinema, técnicas mistas. Leirner já está perto dos 80 anos, mas parece ainda não ter saído da adolescência. É inquieto e gosta de provocações.

Desconfio que se o Mestre Vitalino e o Benedito José dos Santos pudessem voltar à Terra e dar uma passadinha no novo casarão sofistiqué da galeria Silvia Cintra + Box 4, no Baixo Gávea, iriam ficar encantados com a obra de Leirner - principalmente com as obras feitas com figurinhas e brinquedos baratos que a gente encontra no comércio popular.

Leirner constrói uma arte colorida e ousada, que nos faz sorrir... 
...exatamente como as peças dos artistas pernambucanos no Museu do Folclore. 




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