sábado, 13 de março de 2010

"Bastardos Inglórios" não me ganhou

Ando meio atrasada nessa corrida em que todo o mundo entra para ver os filmes vencedores do Oscar. Só agora vi Bastardos Inglórios, do Quentin Tarantino, e não gostei. Preferia ter feito outra coisa naquelas duas horas e meia de ficção furiosa, em que soldados americanos escalpelam prisioneiros nazistas ao melhor estilo apache e Hitler morre carbonizado junto com toda a elite do Terceiro Reich, trancafiados num cinema de segunda classe em Paris. Mein Gott, was ist das? Alguém poderia me explicar?  

Quando o filme terminou, uma pergunta ficou dando voltas na minha cabeça: por que será que a violência e a barbárie fascinam tanto as pessoas?

Apesar de tudo, devo dizer que a primeira meia hora do filme me deixou maravilhada e cheia de expectativas positivas. As cenas iniciais mostram uma bela paisagem rural, na França ocupada pelos alemães. Um fazendeiro corta lenha em sua pequena propriedade, onde mora com as três filhas adolescentes. A paz idílica do lugar se rompe com a chegada de um oficial nazista, que vem interrogar o fazendeiro sobre o paradeiro de uma família judia local, que havia sumido do mapa sem deixar vestígio. É a primeira cena em que o ator austriaco Christopher Waltz aparece e, já neste primeiro momento, dá para a gente entender por que deram o Oscar de melhor ator coadjuvante para ele. O homem é uma fera poliglota (domina quatro idiomas perfeitamente) e consegue transformar os textos mais horripilantes em poesia de veludo.

Meia hora de tensão perfeitamente construída, iluminação sedutora, coreografia genial de câmera, silêncios  eloquentes, surpresas cruéis: este primeiro capítulo de Bastardos Inglórios (o filme é dividido em cinco capítulos mais ou menos independentes)  seria simplesmente glorioso como um curta metragem.

A última cena deste capítulo inicial - em que uma jovem foge desesperada pelo campo fértil e ensolarado - é de uma beleza plástica tão vasta quanto a da paisagem rural do filme. E me fez lembrar o Christina's World, aquele quadro do Andrew Wyeth, que é um verdadeiro ícone da pintura americana - um dos poucos que sempre mexem comigo e me dão vontade de chorar.

Será que fui só eu... ou teve mais gente que também se lembrou do quadro do Wyeth nessa cena do filme?

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