quarta-feira, 3 de março de 2010

"Amor fati", Nietzsche e o México

"Agora não tem mais jeito: tenho que me mudar para São Paulo até o final do mês", disse desconsolado meu amigo do clube de remo na Lagoa, hoje cedo. Há meses ele vem sendo preparado para esta mudança profissional. Não há nenhuma novidade nisso. O que me espanta nessa história é a sua recusa obstinada em aceitar uma situação já definida pela empresa, que pode lhe abrir muitas oportunidades novas.  Ele sofre demais com a perspectiva de deixar sua zona de conforto pessoal. 



Resultado: o tempo passa e ele perde a chance de viver mais um dia feliz.



Conheço bem este sentimento. Já passei por coisa parecida, quando me mudei para a cidade do México contra a minha vontade. Meus primeiros três meses en la Gran Ciudad foram infernais, não conseguia ver beleza em nada. Um belo dia, apertei um botão interno e parei de lutar contra o que a vida tinha me preparado. Mágica! De repente, o México se transformou no paraíso terrestre, cheio de cores, sabores e texturas maravilhosas. Foi assim mesmo, da noite para o dia. Os mexicanos não mudaram nada, isso eu posso garantir. Quem mudou fui eu.  

Tentei animar meu amigo, mas não consegui encontrar nada convincente para lhe dizer. Aquele botão mágico dentro do peito, quem tem que encontrar e apertar é somente ele.  

Voltei para casa pensando na beleza daquela expressão de Nietzsche - "amor fati" - que encerra a fórmula para se viver bem. Em Latim quer dizer "amor ao fado" ou "amor ao destino".  É um conceito ousado, que vai além da simples aceitação das coisas. É "não querer nada de diferente do que é, nem no futuro, nem no passado, nem por toda a eternidade". É "não apenas suportar o que é necessário, mas também amá-lo". 

Pois se nessa vida alguma coisa não tem jeito... remediado está. Pronto. Acabou-se. C'est fini. Finito. Kaput. E vamos em frente, que atrás vem gente.


No meu caso pessoal, não foi Nietzsche quem me ensinou isso. Foi o México.

Nenhum comentário: