domingo, 28 de fevereiro de 2010

Meu pai faz 89 anos


Hoje meu pai faz 89 anos. Ele é meio complicado e, como todo o mundo, tem suas manias, defeitos e qualidades. Mas é a única pessoa dessa idade que eu conheço que navega na Internet como se tivesse ido à escola na era dos eletrônicos. É no Google que ele vai revisitar os labirintos da mitologia grega ou relembrar a letra daquela marchinha de carnaval do Rio de Janeiro de antes da segunda guerra. É através dos e-mails que a gente muitas vezes se comunica melhor, sem as limitações que a perda da audição impõe.

Mas tem dias que eu sei que ele sente saudades dos tempos do lápis e papel, do mataborrão e canetas Parker, das cartas entregues pelo carteiro, dentro de envelopes selados e subscritos a mão.

Daqui a pouco vou almoçar com ele.

Planeta Água

Acabo de voltar de Foz do Iguaçu. Passei três dias cercada de água... água... água..., com a alma encharcada de encantamento.


Como posso ter demorado tanto tempo para conhecer essa maravilha natural do meu próprio país?

Vou dormir cantarolando aquela música do Guilherme Arantes - Planeta Água -, que não me sai da cabeça:

Águas que movem moinhos
São as mesmas águas
Que encharcam o chão
E sempre voltam humildes
Pro fundo da terra,
Pro fundo da terra.



sábado, 20 de fevereiro de 2010

Saudade

Se minha mãe estivesse viva, hoje estaria fazendo 81 anos. Para nós que ficamos, ela nunca parecerá tão idosa, pois se foi logo depois de completar 70. Mas quando penso nela, imagino-a ainda mais nova, sempre sorridente, pronta a nos contar alguma coisa engraçada ou espirituosa.

É uma herança boa. Do jeito que ela era.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

"Samba school"? What ?!?





Em que planeta distante vivemos os brasileiros? Mandei um email para Carol, minha boa amiga americana, com umas fotos do nosso desfile na Marquês de Sapucaí, acompanhadas de um parágrafo onde tentei resumir o significado do carnaval para os brasileiros e o desfile das escolas de samba no Rio. Achei que estava tudo explicado ali. Na mesma hora recebo a resposta, polida e econômica, como convém a uma novaiorquina educada: "What fun." (Assim mesmo, sem ponto de exclamação!) Em seguida ela pergunta, entre curiosa e gentil, o que eu queria dizer com a expressão "samba school" - seria uma espécie de "dance academy"?

Oh, my God! E agora? "Academia de dança!" Era só o que faltava... Diga, espelho meu: por onde é que eu começo a explicar o significado do "maior show da Terra"? Me dá até preguiça, só de pensar...

Tenho bons motivos para estranhar essa pergunta da Carol. É que ela não é apenas uma amiga americana. É uma pessoa com quem eu sempre tive grande prazer em conversar e trocar idéias sobre os assuntos mais variados quando vivia em Nova York. Trabalhávamos juntas no Metropolitan Museum of Art, tínhamos muitos interesses comuns, fazíamos parte do mesmo clube de leitura. Eu gostava especialmente do seu refinado senso de humor e sutileza de observação. Sempre achei que falávamos a mesma linguagem.

O que foi que aconteceu com a nossa comunicação depois que me mudei de volta ao Brasil? Cadê minha amiga Carol?

Cadê eu?

O que me consola é a maneira com que Carol termina seu email, ainda que sem ponto de exclamação: "You look so happy."

E termino a leitura do email da minha amiga, cantarolando de novo aquele samba enredo que não me sai da cabeça: "Diga espelho meu, se há na avenida alguém mais feliz que eu!"

*****
Ontem, quarta-feira de Cinzas, os jurados escolheram a pirotecnia inovadora da Unidos da Tijuca, com seus shows de mágica e um Batman esquiando ladeira abaixo na avenida. Fiquei decepcionada, porque achei que a Unidos de Vila Isabel fez uma homenagem ao Noel Rosa irretocável, emocionante, imbatível. Enfim...

O Carnaval tem dessas coisas. Ano que vem tem mais. E se Deus quiser estarei lá, defendendo a gloriosa União da Ilha! Skindô, skindô!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Ôooo... a União voltou!


Quanto riso - oh! - quanta alegria! (E quantas boas lembranças de carnavais passados...) Como é bom fazer parte desta loucura toda que é o carnaval brasileiro! Depois de catorze anos vivendo fora do Brasil, voltar a desfilar na Marquês de Sapucaí tem sabor de Macunaíma. Bom demais sair na ala Maluco Beleza da União da Ilha, cantando as doideiras do dom Quixote e seus sonhos impossíveis.


Três horas antes do desfile já estávamos todos no maior pique, ajeitando a fantasia, ensaiando o samba enredo uma vezinha mais (e engasgando sempre nos mesmos pontos da letra), rindo de tudo, perdendo nada de vista.


O simples fato de pegar o metrô fantasiados já faz parte da folia.

Quando a nossa ala dobrou a esquina da concentração e deu de frente com aquele mar de gente nas arquibancadas, debaixo dos holofotes, cantando nosso samba enredo na maior animação, soltei a voz com vontade: "Voltou a Ilha! Delira o povo de alegria!"

Não aparecemos na televisão, nossas fotos não foram publicadas em lugar nenhum. Mas sabemos que nem tudo o que é bom aparece na tela da Vênus Prateada. Como diz aquele samba inesquecível da Ilha do carnaval de 1982, nessa hora a gente sabe que faz parte do "maior show da Terra" e cantarola mentalmente: "Diga espelho meu, se há na avenida alguém mais feliz que eu!"

sábado, 13 de fevereiro de 2010


Sábado de carnaval. Dia auspicioso para se começar um blog. Aqui em Itaipava o calor é grande e amanhã com certeza vai ser maior, quando eu descer a serra em direção à Marquês de Sapucaí, toda fantasiada de azul, vermelho e branco. Vou desfilar na escola do meu coração - União da Ilha!

Ô, a União voltou, a União voltou,
A União voltou-ô!

O tema do samba enredo deste ano é bem poético: "Dom Quixote, o Cavaleiro dos Sonhos Impossíveis". A melodia é contagiante e a letra fala de fidalguia, livros e ilusões. Mas eu gosto mesmo é do nome da nossa ala: "Maluco Beleza". Tem nome melhor que esse? Tudo a ver com o Rio de Janeiro, o espírito carnavalesco e esta minha vontade represada de brincar, sem medo de ser feliz.
De penacho vermelho na cabeça, armadura prateada no peito e bandeira na mão, vou cantar e dançar para o mundo inteiro nos meus 80 minutos de glória no asfalto. Me aguardem!